MENSAGEM DO DIRETOR EXECUTIVO

Gabriel Baracatt. Diretor Executivo.

A Fundación Avina está comemorando seus primeiros 25 anos. E uma boa síntese do papel que a instituição desempenhou ao longo do tempo transcorrido pode ser feita com a seguinte metáfora: podemos comemorar um aniversario assoprando as velinhas ou cuspindo o bolo. E na realidade estamos fazendo as duas coisas: assopramos as velas do que deve ser comemorado, das muitas realizações alcançadas com nossos parceiros, as transformações realizadas nos diferentes programas que estão descritas resumidamente no presente relatório. Mas também cuspimos o bolo da desigualdade, dessa grande porção de riqueza concentrada em poucas mãos e dessa porção mínima de acesso a oportunidades disputadas por bilhões de habitantes no planeta, dos excessos institucionais que restringem direitos e dos abusos dos quais as instituições da democracia são vítimas por parte de funcionários discricionários ou corruptos e do crime organizado.

Estamos testemunhando dois tipos de manifestações sociais exponenciais que apresentam temas na agenda de reivindicações coletivas a partir de duas estratégias de intervenção: uma delas, a partir das interpelações coletivas sem expoentes visíveis mencionadas por Sean no texto anterior. E por outro lado, vemos o profundo questionamento encarnado por pessoas que conseguem sintetizar o que muitos pensam ou sentem. É o caso de Greta Thunberg, que personifica a agenda de desafios climáticos e representa milhares de adolescentes e jovens que conseguem enxergar como o presente está les roubando o futuro.

A sociedade civil precisa gerar arquitetura social e estratégias inovadoras para que as reivindicações massivas, sejam elas geradas por coletivos de cidadãos ou por emergentes globais, possam ser aproveitadas a partir de processos transformadores que sejam implementados a partir das organizações. Interpelações massivas e reivindicações planetárias que geram impactos exponenciais têm que ser capitalizadas para que possam agregar valor e ser institucionalizadas nos processos promovidos pela sociedade civil organizada. Precisamos complementar a organização cívica com a civilidade espontânea, porque esta última é um caminho – e muitas vezes um atalho – para realizar mudanças sistêmicas mais profundas e mais rápidas do que as que podem ser alcançadas somente a partir das ações planejadas que buscam incidir nas políticas públicas.

Precisamos fazer isso, porque nossa intervenção está ligada a dois temas centrais para o futuro: a sobrevivência da espécie em um planeta ameaçado pelo desenvolvimento e a reengenharia que as democracias necessitam para organizar sociedades cada vez mais complexas.

Na agenda de mudanças climáticas é fundamental aumentar a ambição dos governos nas metas propostas para reduzir os efeitos que geram a deterioração das condições do planeta, e para isso temos que aumentar, a partir da sociedade civil, nossas capacidades de incidência e de propostas para complementar as políticas que são executadas pelos governos e pelos órgãos multilaterais. Os poucos resultados da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 25), realizada em Madri, são um chamado de atenção não apenas para a necessidade de aprofundamento nas negociações, mas também para a necessidade de acelerar os prazos para chegar a acordos.

Por isso, a partir da Fundación Avina juntamente com um grupo de parceiros, promovemos a campanha global #6DItsNow, que reuniu mais de 14 mil pessoas, 1.114 organizações, 28 empresas e 3 governos em 93 países, além de meios de comunicação, escolas e celebridades. Todos eles realizaram, no dia 6 de dezembro, paralelamente ao encontro da COP 25, diferentes ações em favor do cuidado do planeta, dentre as quais a plantação de milhares de árvores em diversos países com o objetivo de incentivar e articular uma conduta de pró-atividade climática, superando coletivamente a frustração individual provocada pelas dimensões alcançadas pelas mudanças climáticas e gerando uma comunidade global em torno de tarefas concretas e simples, que alcancem a escala e a resiliência necessárias para ajudar a enfrentar a crise global por um planeta sustentável.

A outra agenda que está sendo profundamente questionada é a de um modelo econômico que promove desenvolvimentos industriais e comerciais que, além de impactar negativamente o ambiente, gera concentração de riqueza e exclusão social. Aqueles que acompanham a trajetória da Avina sabem que desde o início temos apoiado a ideia de mudar a maneira pela qual os negócios são concebidos e desenvolvidos. Não somente por meio do que ficou conhecido como “negócios inclusivos”, mas também chegando ao coração das finanças. Se não mudarmos a forma pela qual concebemos a função do capital em pequenas, médias e grandes empresas, dificilmente vamos conseguir mudar a situação atual. Por isso, estamos acompanhando, como parceiros estratégicos, diferentes iniciativas de finanças éticas, assim qualificadas porque colocam no centro do manejo financeiro a decisão ética de entender o impacto ambiental ou social na economia real e não somente na rentabilidade de curto prazo baseada em oportunidades especulativas que não beneficiam as pessoas nem o planeta. A parceria da Avina com a Global Alliance for Banking on Values, a formação de uma Banca Ética em nível regional e o respaldo continuado a diferentes fundos de impacto triplo estão inscritos nessa lógica institucional.

Com essa mesma lógica, a de velar pela garantia e aceleramento do impacto das oportunidades que apoiamos, continuamos investindo em um conjunto de tecnologias disruptivas que nasceram da visão e do conhecimento de empreendedores geniais e que precisam chegar ao mercado para terem a chance de se transformarem em soluções para as pessoas com a escala global que necessitamos. Vocês verão neste relatório uma síntese de nossa carteira, com inovações incríveis que podem se tornar grandes marcos, dividindo a história em um “antes e depois” em setores críticos para a humanidade como a água, energia limpa, cibersegurança de bens públicos e saúde.

Para finalizar, eu gostaria de parabenizar nosso presidente, Sean McKaughan, pela publicação do livro “ColaborAção”, porque agora poderemos divulgar e ompartilhar o modelo de processos colaborativos promovido pela Avina. Estamos avançando, a partir da diretoria executiva, na construção de um modelo operacional que oriente a organização na direção da concretização das mudanças sistêmicas visadas pelos diferentes processos colaborativos.

O melhor presente que a Fundación Avina recebeu nesses 25 anos é o capital humano que a mantém viva. Os membros da equipe da Avina, que se entregam às causas que lideram com mente, corpo e alma, os membros do Conselho Administrativo, que avaliam e enriquecem os desafios que assumimos para transformar o planeta, e nossas parceiras e nossos parceiros que, ano após ano, ultrapassam as fronteiras do possível para ampliar os limites dos impactos que melhoram a qualidade de vida de milhões de pessoas. A melhor maneira de comemorar os 25 anos que se passaram é pensando nas mudanças sistêmicas dos próximos 25 anos.

Um grande abraço!